terça-feira, 14 de julho de 2009

Crónicas dos Sonhos Felizes I

Já estava na altura de contarmos à vasta multidão por detrás dos monitores que se dá ao trabalho de nos acompanhar os belos e prazenteiros sonhos de que aqui os camaradas são alvo. Talvez por dormirem durante o dia e acordarem às 7 da tarde, talvez por demasiado estudo, talvez porque sim, talvez porque alguns de nós andam subnutridos... bem não interessa o porquê. O interessante aqui mesmo é a inauguração de mais uma fantástica publicação que se espera contar com o apoio de TODOS os Camaradas: Crónicas dos Sonhos Felizes.
Hoje apresentamos a nossa primeira história, repleta do horror e do bizarro...



- Pernas para que vos quero?

Acabando mais um fastidioso dia de aulas (ou de outra coisa qualquer, já que o que importa mesmo é a minha presença na faculdade), percorri o campus de uma ponta à outra para ir para a paragem de autocarro. Qual não foi o meu espanto quando me deparei com a presença de um autocarro que não costumava estar ali. Afinal, eu conhecia-o e ao símbolo do colégio para o qual trabalhava. A porta estava aberta e não hesitei em entrar. Lá dentro estava precisamente a senhora vigilante que nos acompanhara tantas vezes na viagem escola-casa.

Sem papas na língua, logo cravei uma boleiazinha, lembrando-me que era costume no colégio deixarem as criancinhas à porta de casa. Vá...estava calor e não me apetecia andar muito...
A senhora repondeu-me que não havia problema nenhum desde que o autocarro não tivesse de fazer desvio nenhum. E eu aceitei. Pouco depois de estarmos andar lembrei-me: mas eu mudei de casa entretanto! E avisei o motorista. Então fiquei a saber que ia ter de sair 4 paragens de autocarro antes da mais próxima de minha casa.

Já arrependido e a remoer a asneira que tinha feito, fui conversando com a senhora. «Então e nunca mais deste notícias...Nem respondeste ao sms que te mandei uma vez, nem nada...». Eu não sabia o que responder. Claro que me lembrava do sms, mas quem no seu prefeito juízo é que iria responder a um sms mandado pela vigilante de um colégio do qual se saiu à quase 5 anos?? Inventei uma desculpa qualquer.

A conversa continuou e eu fui perdendo a voz. Estava cada vez mais rouco, até que quando chegou a minha paragem, estava completamente afónico. Despedi-me com um aceno, sem conseguir produzir um som. Mas o melhor estava para vir. Quando toquei com os pés no chão parecia que algo me tinha amortecido o salto. Qual não foi o meu espanto quando olhei para baixo e reparei que tinha patas de canguru. Sim isso mesmo, patas de canguru a começar nos meus tornozelos.

Resignado à minha sorte e como se fosse a coisa mais natural do mundo, lá fui eu aos saltinhos. Contornei a bomba de gasolina, atravessei a estrada e tropecei em qualquer coisa. De repente era um rapaz com pernas de canguru a saltar ao pé coxinho em direcção a casa dos meus tios. Não me perguntem porque lá fui, que eu também não descortino qualquer hipótese, mas o facto é que cheguei lá.

Ainda com as pernas animalescas, aos saltos que nem uma mola gigantesca, saltei por cima do portão. E, outra coisa fantástica, o pastor-alemão da minha tia e a sua rafeira, tinham-se por milagre transformado num rato do deserto gigante e numa lebre mutante (sim, nenhuma lebre normal tem o tamanho de um cão). Eis senão quando, os dois animais agarram-se às minhas pernas de canguru e começaram a roê-las freneticamente. Sem saber o que fazer, pois rapidamente começariam a comer as minhas pernas de humano, comecei a saltitar até chegar ao varandim das traseiras da casa. Aí, dei um salto e agarrei-me a uma coluna de pedra com toda a força. Sentia os bichos a chegarem-me aos pés, com os dentes cravados nas dilaceradas patitas marsupiais. Então, como um génio lembrei-me: descalcei as patas de canguru, como quem tira sandálias, e elas caíram juntamente com os inoportunos roedores.

E assim fiquei eu, agarrado a uma coluna, com dois bichos gigantes a roerem com imenso gosto as minhas patas de canguru.

FIM

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